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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Alfabetização: letra bastão tende a substituir letra de mão

29/05/2013 - 12:18
Francisca Paula Toledo Monteiro
A educadora Francisca Paula Toledo Monteiro trabalha com alfabetização e letramento na Divisão de Educação Infantil e Complementar da Unicamp. É professora de crianças na educação complementar que estão em processo de alfabetização de seis a sete anos, num trabalho de educação não formal, mas voltado ao letramento e à alfabetização. Em seu mestrado, apresentado à Faculdade de Educação (FE), há alguns anos, ela abordou as diferenças e subjetividades na educação, tendo como foco o fracasso escolar. À época, ela questionou: de quem afinal é o fracasso? Francisca atua com alfabetização desde os 17 anos e se confessa uma apaixonada pelo assunto. Ela foi partícipe e se lembra muito de quando foi alfabetizada e garante que a alfabetização avançou muito. Hoje não encerra mais a concepção de que quem ensina é o professor e de quem aprende é o aluno. É preciso antes, salienta a professora, conhecer o mundo. A educadora discutiu longamente a sua experiência e relatou que a tendência atual é o desuso da letra cursiva, ou de mão, em favor da letra bastão, que está largamente distribuída no mundo: nos computadores, nos outdoors, nas faixas, nos painéis, nos comunicados e na correspondência comercial. Em entrevista ao Portal Unicamp, Francisca comenta os desafios do professor e o importante papel da criança como protagonista no processo, como leitora e como coautora de sua própria história.
Portal Unicamp – Há responsáveis pelo fracasso escolar?
Francisca Paula Toledo Monteiro  A resposta é que existem demandas que as crianças nos trazem e às quais a escola não tem sido capaz de responder. Não quero, com isso, dizer que a responsabilidade seja exclusivamente dos professores, mas de todo um sistema, onde a sociedade evolui com as tecnologias e evolui nas formas de relações humanas. O que se verifica é que a escola se fecha nos muros da artificialidade. Assim, as demandas que as crianças trazem não são ouvidas e, se são ouvidas, são interpretadas pelo olhar do adulto e novamente reenquadradas dentro dos muros da escola, onde não há sentido, muitas vezes, e nem tem significado para as crianças. Daí o altíssimo nível de dificuldades na leitura e na escrita que encontramos no quinto e no sexto ano do ensino fundamental.
Portal – Talvez isso já tenha a ver com a alfabetização...
Francisca – Sim. A alfabetização no Brasil é muito deficitária, tanto que hoje nota-se um imenso número de crianças que são encaminhadas para as clínicas de fonoaudiologia e um imenso número de cursos de especialização em psicopedagogia e na própria alfabetização e letramento. Então, penso que a nossa formação pedagógica não dá a ênfase necessária às questões da alfabetização, isso não só técnica e linguística, mas também envolvendo o contexto da alfabetização.

Portal – Como você define alfabetização?
Francisca – Trata-se de um processo que se inicia com a leitura da palavra 'mundo', defendida por Paulo Freire, e com a compreensão, pelas crianças e pelas pessoas, da função social da leitura e da escrita. E isso está muito descontextualizado na escola. Toda a sinalização da instituição e todas as relações organizadas dentro dela deveriam ser feitas junto com as crianças: os bilhetes, os murais, os diários, as rotinas, os roteiros. Isso porque elas têm, aí, indícios da função social da leitura e da escrita, porque organizam o mundo dentro da escola, antes mesmo de desenharem as letras. Na verdade, no sistema linguístico, o alfabeto é o último reconhecimento que a criança faz na estrutura da palavra.
Portal – Qual seria o primeiro reconhecimento?
Francisca – Seria a palavra: o texto e o contexto. São as aquisições nas quais as crianças estão imersas culturalmente. Elas são constituídas pela linguagem desde que nascem. Então compreendem o sentido social da leitura e da escrita, porque são capazes, potentes e competentes, mesmo aquelas que têm dificuldades motoras ou de linguagem. Todas podem estar inseridas e cônscias de um contexto quando ele está devidamente desenhado. Por outro lado, se eu artificializo, há uma descontextualização. Quanto mais artificial, mais dificuldades o sujeito enfrentará para compreender as relações da escrita.
Portal – O que você chama 'artificializar'?
Francisca – Usar apostilas, trabalhos mimeografados, xerocopiados ou impressos, e bilhetes prontos que nem sempre são lidos, nem pelos professores. Não estou criticando o professor, e me incluo nisso, mas estou vendo que isso é resultado da pressa e do cumprimento de um currículo que não está voltado à criança. A organização dos espaços e dos tempos é dirigida ao próprio currículo ou à rotina do adulto, e não às crianças. Gastamos muito tempo organizando e pouquíssimo tempo com o repertório trazido pelas crianças.

Portal – O que seria ideal na alfabetização?
Francisca – Não creio no ideal e sim em ideais. Acredito que precisamos escutar as crianças, pois todo ano temos uma clientela diferente que chega, vinda de culturas diferenciadas, mesmo numa mesma cidade. Aposto numa construção em que se ouve muito o que as crianças têm a dizer e que enfatiza o estudo, porque precisamos conhecer os processos de aquisição da leitura e da escrita. Também não acho que a criança deva escrever do jeito que quer. Ela adquire, constrói o conhecimento, e o professor vai mediando e alargando o contexto cultural das crianças. Esta é a função da escola. Não é doutrinar e domesticar o aluno, mas auxiliá-lo a ampliar a sua visão de mundo e sua capacidade de sentir, pensar e agir sobre ele.
Portal – O que o professor ensina nos primeiros contatos com os alunos?
Francisca – Partimos da premissa de que a criança já teve contato com as letras e que já traz um conhecimento em sua bagagem. Mas quando estamos com ela, infelizmente esquecemos dessas suas experiências. Daí pensamos que o primeiro contato com as letras é na escola. Isso não é verdade. Mesmo tendo pais analfabetos, a criança tem conhecimento, uma vez que sai na rua, convive com pessoas e sempre tem alguém que é leitor na sua casa ou próximo dela. Então ela já chega tangendo alguns domínios. A alfabetização passa por vários processos. que seriam, entre outros,  reconhecer que a criança é capaz e de que ela traz conhecimentos, além de trazer para dentro da sala de aula os textos, e não as palavras ou as sílabas e letras isoladas. O ambiente alfabetizador é aquele em que a criança participa de uma construção coletiva com seus colegas, com a professora, de textos que fazem sentido para ela: o bilhete que vai para a casa dele, o cardápio da escola, a rotina do dia na lousa. Daí ela começa a escrever, pois faz tentativas através do próprio jogo simbólico. Ela vai ensaiando a escrita e a leitura, já a partir de dois a três anos. Dentro da sala de aula, também é incentivada com a leitura feita pelo professor. Em alguns momentos, o educador funciona semelhantemente a um escriba. Enquanto as crianças vão produzindo os textos, o professor vai escrevendo por elas. A criança precisa, para escrever, saber que se escreve com letras, não com desenhos. Isso é feito pelo professor mediante comparações com livros, leituras, textos produzidos em conjunto. O professor mostra que há uma escrita em comparação a um desenho, a uma escultura. Logo, a própria criança vai reconhecendo e diferenciando.
Portal – Como é o reconhecimento inicial na alfabetização?
Francisca – A criança vai ao supermercado e lá observa, em grande medida, as letras. Ela grava isso, assim como as propagandas. Deste modo, para alfabetizar, podemos começar com os nomes que elas já conhecem. Criamos listas nas paredes ou fazemos para elas crachás. Assim vão reconhecendo os nomes ou textos mais próximos do seu cotidiano. Depois fazem tentativas de escrita. Também, a partir do estímulo do professor, a criança desenha e produz uma história. A seguir, vai passear e relatar seu passeio. Traz uma receita de casa e a professora a executa com as crianças. Escreve-a na lousa. Lê junto com os alunos. Pede à família que faça o mesmo. A criança vai então transcrever. Esse é parte do processo.
Portal – Quando se pode dizer que a alfabetização foi feita?
Francisca – A alfabetização não tem um início, meio ou fim. Ela não termina nunca. Tecnicamente alfabetizada está uma criança que já lê, compreende o que foi lido e pode se comunicar a partir de um bilhete. Ela não precisa conhecer as sílabas separadas, como reza a cartilha, que envolve um processo fragmentado. O nosso histórico, no passado, foi de fragmentação das disciplinas. É o que chamamos de um cartesianismo – ter uma linha contínua: começo, meio e fim, como se isso fosse possível. De outra via, reconheço que foi uma maneira de avançar nas ciências. Recortou-se o conhecimento a partir da Filosofia. Então Psicologia e Sociologia se originaram da Filosofia. Fragmentava-se, transformava-se o conhecimento em departamentos e em disciplinas para que isso fosse oferecido com a visão de um professor que sabe tudo e de um estudante que não sabe nada. Esta concepção permeava a alfabetização a partir da cartilha.

Portal – Você é contra a cartilha?
Francisca – Não uso a cartilha, o que não significa que tenho algo contra quem a adota. Penso apenas que fragmentar o conhecimento não ajuda porque a criança não conhece a parte para depois o todo, nem o ser humano. Conhecemos o todo e depois fragmentamos em partes aquilo que nos interessa, para reconstruir no novo todo. Cada professor parte de um princípio. Parto de ouvir a criança, trazer o letramento para a sala de aula, formar um ambiente letrado em que as escritas, as leituras e as oralidades são valorizadas.
Portal – Como a criança começa a desenhar as letras?
Francisca – Com dois a três anos, e em qualquer lugar. Na escola, ela começa a desenhar e, a partir desse desenho, o professor pode pedir-lhe para representar o que desenhou. Ela ensaia colocando letras. A professora pode deixar à mostra um alfabeto. Não há problema. Mas as minhas crianças nunca alfabetizaram porque conheciam o alfabeto. Eu acreditava piamente que as crianças tinham que reconhecer as letras para serem alfabetizadas, mas alfabetizei um menino sem que ele nomeasse sequer uma letra do alfabeto, nem as do nome dele. E ele se alfabetizou em apenas três meses.
Portal – Como isso acontece?
Francisca – A alfabetização se dá na interação do mundo letrado com a mediação de um professor, cuja concepção hoje é de que a compreensão e o contexto estão num texto. Não estão na fragmentação das palavras que, soltas de um contexto, como “o bebê babou”, não fazem sentido. “O vovô viu a uva” também não. Conosco foi assim, em outra época. Mas o mundo foi se transformando, se aprimorando. As dificuldades de aprendizagem aumentaram a tal ponto de as pesquisas se iniciarem com Paulo Freire, em 1960, já preocupado com o nível de analfabetismo porque a concepção que tínhamos – de sujeito que aprende e que ensina – não é o que acreditamos hoje.
Portal – Qual é a tendência na alfabetização?
Francisca – As pesquisas e o próprio trabalho que procuramos desenvolver nas creches é de que essa alfabetização é um processo que não se dá no primeiro ano só. É um trabalho contínuo. Cabe ao professor dominar alguns conhecimentos linguísticos, gramaticais e sociais para que ele não exclua nenhuma criança desse aprendizado e para que organize o seu fazer pedagógico. Agora o principal: é preciso mudar a concepção de ensino e de aprendizagem. As crianças são potentes, ativas e participativas. A alfabetização se dá num contexto cujo eixo é o texto, e não a letra e não a sílaba. Essa é uma convicção que trazemos da teorização de Paulo Freire, da leitura da palavra mundo, e das questões trazidas pela valorosa Emília Ferreiro, a partir da psicogênese da leitura e escrita. Não vejo como uma tendência. É uma mudança de paradigma: de criança como tábula rasa para um sujeito aprendiz com potencial e com conhecimento; e de uma concepção de que o professor é o detentor de todo saber, porque ele aprende muito enquanto ensina.
Portal – Como deve ser a postura do professor nesse modelo?
Francisca – Ele precisa ser observador, presente, e qualificar a criança potente. Deve instigá-la para saber mais. Um professor leitor, que lê muito para seus alunos e que tem uma boa entonação de voz, ele já está ensinando a criança o texto e a pontuação. Depois é só ele oferecer a técnica. A própria regra é construída com a criança, a partir de comparações: por que essa palavra eu leio assim e a outra de outro modo? Como numa poesia, por exemplo, a criança identifica as rimas? Todas essas são capacidades que o aluno vai adquirindo no contato com o professor e igualmente com a família.

Portal – Nesse processo, o que vem antes: a leitura ou a escrita?
Francisca – Em geral, a leitura precede a escrita. Mas uma coisa não exclui a outra, porém uma alfabetização meramente memorizada e copista vai gerar muitas vezes crianças copistas e que não boas produtoras de texto, que não têm a perspectiva da coautoria. Já tive alunos que precisei atender em aulas particulares que tinham cadernos perfeitos, mas que não liam uma palavra. Temos que desmistificar também que a criança só vai escrever bem quando ler. Não. Ela pode escrever sem ler.
Portal – O que pensa da ideia que permeia hoje de que a letra cursiva não vai existir mais, porque hoje o mundo é da letra bastão?
Francisca – Todas as letras são válidas, desde que a criança tenha a chance de se expressar. Se ela tem uma leitura proficiente, lerá em qualquer tipo de letra. O que é impensável é o professor ainda imaginar que uma criança está alfabetizada quando ela domina a letra cursiva. Isso é um mito e é algo que parte do senso comum. Isso já caiu por terra há muito tempo. Agora, a letra cursiva dificilmente é empregada no mundo e na escola. Qual é o problema da criança responder em letra de forma? Todas as informações são praticamente em letra bastão. Isso está no computador, nos outdoors, nos painéis, nos bilhetes que vão para a casa. O que ocorre é que não há uma grande utilidade mais. E se o computador estragar? É bom que se grafe com a própria letra. É um princípio da autonomia. Não preciso depender da máquina. Qual é o problema se a função da escrita e da leitura é a comunicação e a inserção social do sujeito? O importante é que a criança leia, interprete e consiga fazer o seu uso social. A letra no máximo precisa estar legível para que exerça a função da escrita e da leitura, que são a comunicação e a inserção social – representação subjetiva na minha ausência. Nem precisa estar bonita.
Portal - Os Estados Unidos anunciaram o fim do ensino da letra cursiva. E aqui?
Francisca – Creio que muitas coisas são decretadas porque demoramos muito para mudar. Às vezes isso causa um sofrimento desnecessário às crianças. Não há utilidade na letra cursiva nem em termos de coordenação motora, porque essa coordenação não é testada pela letra. Ela se dá na interação da criança com o mundo e com os outros. A criança que não tem autonomia, que a mãe, a berçarista ou a professora da creche dão tudo na boca e na mão, pode até fazer caligrafia, contudo, não vai desenvolver coordenação. A criança ganha autonomia no fazer, na construção do mundo.

Portal – Até quantos anos ela tem uma coordenação satisfatória?
Francisca – Isso varia. Agora se ela vive um ambiente que pode, com autonomia e segurança, se alimentar, se vestir, amarrar o tênis, recortar seu bilhete sozinha, ao invés de rasgar papelzinho e ficar treinando no papel, ela vai se desenvolver sem nenhum problema e vai chegar ao período de alfabetização, ou em qualquer período da vida dela, sem nenhuma dificuldade e sem nenhum comprometimento motor.
Portal – Essa coordenação poderá ajudar no quê?
Francisca – É um reflexo de toda a vivência corporal da criança, mas nos auxilia para tudo. Até para mudança de ponto de vista. A coordenação inclui tudo, até a capacidade óculo-visual, auditiva e cinestésica. A coordenação não é só para ler, para escrever e para digitar no computador. Envolve a confecção de trabalhos manuais e sobretudo a organização da própria rotina. A criança descoordenada normalmente também está descoordenada no seu tempo e no espaço. A coordenação não é pela mão. Ela vem de dentro para fora e de fora para dentro. É o social junto com o pessoal.

http://www.unicamp.br/unicamp/noticias/2013/05/29/alfabetizacao-letra-bastao-tende-substituir-letra-de-mao

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Matemática para cegos e alunos em processo de alfabetização

Bom dia pessoal!

Acabei de assistir um vídeo que gostaria de compartilhar com vocês...
ele apresenta estratégias para ensinar matemática para cegos,
mas acredito que é uma alternativa interessante para alfabetizadores!


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Dica de Blog - Contar e Encantar

Esse é para os apaixonados por contação de histórias!



Blog Contar e Encantar, da Profª Anaisa, um encanto, vale a pena conferir.

http://anaisanantes.blogspot.com.br/

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC)

Gostaria inicialmente de agradecer a equipe de alfabetização da SEMED/Dourados, por ter me indicado para atuar como Orientadora de Estudo nessa maravilhosa iniciativa.

"O PNAIC é um programa integrado cujo objetivo é a alfabetização em Língua Portuguesa e Matemática, até o 3º ano do Ensino Fundamental, de todas as crianças das escolas municipais e estaduais brasileiras.

Caracteriza-se, sobretudo:
- pela integração de diversas ações e diversos materiais que contribuem para a alfabetização:
- pelo compartilhamento da gestão do programa entre Governo Federal, estados e municípios;
- pela orientação de garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a serem aferidos pelas avaliações anuais.

Portaria 867 de 04 de julho de 2012

Entenda o Pacto

Apresentação 1

Apresentação 2

- I Videoconferência - Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa.
Bloco 1 / Bloco 2 / Bloco 3 / Bloco 4 / Bloco 5 / Bloco 6 / Bloco 7 / Bloco 8 /
Bloco 9

- II Webconferência do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: 02/10/2012Bloco 1 / Bloco 2 / Bloco 3 / Bloco 4 / Bloco 5 / Bloco 6

- III Webconferência do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: 16/10/2012Bloco 1 / Bloco 2 / Bloco 3 / Bloco 4 / Bloco 5 / Bloco 6 / Bloco 7

- IV Webconferência do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade CertaBloco 1 / Bloco 2 / Bloco 3 / Bloco 4 / Bloco 5 / Bloco 6 / Bloco 7 / Bloco 8

- V Webconferência do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade CertaBloco 1 / Bloco 2 / Bloco 3 / Bloco 4 / Bloco 5 / Bloco 6"

Fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/Anonimo/ProgMEC/pnaic.aspx

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dica de Material Pedagógico - Educação para o Trânsito







Acabei de ler algumas histórias que me deixaram cheia de ideias para trabalhar com meus alunos o tema trânsito.

Encontrei no material de estudo de um dos cursos que estou fazendo, o Criança Segura, Safe Kids Brasil.


Acredito que esse pode ser um material valioso para nosso trabalho enquanto formadores de cidadãos para um trânsito seguro.


Esse é o tipo de leitura que vale a pena!!!




Tema: atropelamento. Educação Infantil

A criança e o gato pelas ruas - Cleo Busatto
 
Olá. Eu sou o Joca. Eu sou um gato.
Não um gato qualquer. Sou muito especial.
Tenho uma tarefa que dá um trabalho, viu?
Eu vou lhe contar. Este vai ser o nosso segredo.
Moro com um amiguinho, um humano, que vive se metendo em confusão. E quem é que tira ele das encrencas? Eu, o super-Joca, o gato mais falante de toda a redondeza.
Eu sou um belo gato. Modéstia à parte, me acho... um gato! Sou preto, bem preto; meu pelo é brilhante; meu olho é verde, bem verde.
Meu amiguinho tem o costume de brincar na rua. Ele sabe que a rua já não é mais lugar de brincadeira. Pelo menos a rua na qual ele mora. Mas ele é teimoso, cabeça-dura. Nem adianta a mãe dele dizer:
— Filhinho, sai da rua, que vem carro!
Ele grita:
— Tá bom, mãe, já vou!
Mas continua lá.
Outro dia eu estava curtindo a calmaria de um telhado ensolarado. Com um olho eu dormia, com o outro cuidava do meu amigo que andava de skate. Ele fez um ollie, tirou o skate do chão e ficou se exibindo pros outros meninos.
Com meu olho acordado, eu vi um carro que vinha em alta velocidade. Percebi que meu amigo, no seu ollie radical, ia se esborrachar embaixo das rodas do carro. Saltei rapidamente do telhado e comecei a atravessar a rua, calmamente. O motorista me viu, buzinou e freou a tempo de o meu amiguinho sair da rua. Acho que ele ficou mais assustado com a voz irritada do motorista do que com a possibilidade de ser atropelado. O moço gritou:
— Ei, menino, nesta rua não pode brincar não. Carro mata, viu?
Meu amiguinho ficou gelado e disse:
— Ei, Joca, vamos pra casa. Que susto, hein? O carro quase o pegou.
 

Tema: atropelamento. 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
O menino e vovó de luva vermelha - Cleo Busatto

Todos os dias o menino ia pra escola. Todo dia o menino atravessava a rua, com suas pernas-de-saracura e pulga na cueca. Nem olhava pros lados. Até parece que a rua era só dele. Passava correndo na frente dos carros e dos ônibus grandalhões.
E os ônibus: bip bip bip biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiliiiiiiiiiiiiiiiip ...
O menino ria e corria.
A professora do menino não achou graça naquela brinca-deira e disse:
- Menino, não pode atravessar no meio da rua. Você tá vendo aquela faixa branca?
É por ela que se atravessa. Ela foi pintada no chão pra gente passar com segurança. E só quando os carros estiverem parados, entendeu?

O menino responde:
- Sim, senhora!
- E por que você atravessa no meio da rua quando os carros estão andando?
- Sei não, senhora.

Mas o menino, de pernas-de-saracura e pulga na cueca, continuou a fazer tudinho como fazia todos os dias: ria e corria no meio do rua. Até que... biiiiiiiiiiiiiiiiiiippppppppp biiiiiiiiiiiippppppppppp biiiiiiiiiiiipppppppp, fez um carro amarelo.
Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, gritou o ônibus grandão.
O menino dançava entre os carros e tentava atravessar.
E agora? Eles vinham em disparada. Todos de uma vez. Não dava para ir pra lá, nem dava para correr pra cá. Foi então que ele a viu, pela primeira vez.
Ela tinha a cabeça branca e usava um chapéu roxo com bolinhas amarelas. Estava parada na calçada, do outro lado da rua, na faixa branca. Ela sorriu pro menino e com um gesto, fez o tempo parar.
Foi ao encontro do pequeno e pegou na sua mão. Atravessaram na faixa de pedestre. Quando já estavam na calçada, os carros voltaram a correr. O menino olhou pro lado. A vovó não estava mais lá. Olhou pro outro lado da rua, e lá estava ela. Sorriu pro menino e acenou com a mão escondida numa luva vermelha.
No outro dia, ela estava lá., ao lado da faixa branca... e no outro dia também... e no outro, no outro e no outro...
Ela erguia sua mão, o tempo parava, e o menino atravessava a rua na faixa branca, levado pela mão encarnada da vovó.

Tema: atropelamento. 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
Pedro e a faixa de segurança - Cleo Busatto



Olá, meu nome é Pedro. Quero contar um segredo pra vocês, e que fique entre nós, tá bom? Isso aconteceu um tempo atrás. Pouco tempo atrás. Foi assim:

Eu estava superatrasado. Ia pro futebol. Convenci o meu pai e a minha mãe que já dava pra ir sozinho. Poxa! Todos os meus amigos faziam isso. Eles iam rir de mim se eu chegasse com “papai”, né?
No caminho que vai da minha casa ao campo de futebol, tem uma avenida, uma via rápida, dessas onde os carros não param nunca. Pra atravessar, a gente tem de se arriscar no meio do trânsito, ou ir até o semáforo, que fica a uns trezentos metros do meu caminho em linha reta.
Eu prometi aos meus pais que só atravessaria na faixa de pedestre. Mas nesse dia eu estava atrasado. Sabe como é! Eu ia na maior pressa, na corrida mesmo. Ao chegar à avenida, parei pra ver se vinha carro. Nenhum carro à vista. Já ia passar direto, quando senti uma coisa tocando no meu braço direito.
Foi a primeira vez que aconteceu.
Alguém tocou o meu ombro. Parei. Olhei pro lado: ninguém. Tocaram no outro ombro. Virei pro outro lado: ninguém. Nessas alturas já havia passado um monte de carros. Fiquei intrigado. Outro toque, depois outro e outro.
“Pô! Que é isso? Parece assombração” — pensei.
Foi então que me vi. É isso mesmo. Juro! Eu me vi, minúsculo, sentado no meu ombro direito. Eu tinha uma cara feia, os cabelos espetados e uma cara de cão raivoso. Até parecia a Lua, minha cachorra, quando está brava. Levei um susto. Virei pra esquerda, e lá estava outro eu, também minúsculo, mas com uma cara sorridente e feliz, com a cabeça repousada no pescoço.
Poxa! Eu não tava sonhando, não. Tava bem acordado. Via tudo o que acontecia na rua, mas via, também, os dois de mim. Pro meu espanto, eles começaram a discutir. Um dizia:
— Vai, Pedroca, passa, cara. Tá com medo, fracote?
O outro:
— Pedro, calma. Olha o perigo que é esta avenida. Anda mais um pouco, larga mão de ser preguiçoso.

Um irritado:
— Deixa disso e passa logo, o carro tá tão longe, dá pra atravessar mil vezes.
Outro tranqüilo:
— Pensa. Pensa antes de passar na louca. Você já é grande e tem noção do perigo. Já imaginou um atropelamento na velocidade que estes caras vêm? Não sobra nenhum de nós pra contar a história.
O atirado:
— Não ouve este trouxa, não! Lembra que o futebol já tá começando, cara. Passa logo.
E o minúsculo sorridente, na maior paz:
— Pedro, lembra da conversa com seus pais. Eles acreditaram em você, e agora você vai quebrar essa confiança por uma tolice? Se chegar atrasado, paciência. Da próxima vez, acorda mais cedo.
Que coisa, viu! Eu estava ali, só olhando, de um lado pra outro, de boca aberta, vendo aqueles dois minúsculos discutindo. Foi então que o meu primo apareceu dizendo que ia pra aquele lado: pros lados do campo de futebol.
Saímos andando, juntos, conversando sobre música. Às vezes, eu espiava pros meus ombros, e eles continuavam lá. Gesticulavam, como se estivessem numa conversa empolgante. Perguntei pro Gustavo:
— Tá vendo alguma coisa no meu ombro?
— Nada.
E assim, na boa, chegamos ao semáforo. Sinal vermelho pros carros: todos pararam. Sinal verde pra nós: atravessamos na maior calma. Em segurança. Senti um alívio.
No meu ombro, eu, minúsculo e de cara feliz, dava um sorriso de vencedor pro eu de cara feia. E foi assim que aconteceu o meu encontro com os dois de mim.
Esse era o segredo.



Tema: Lesão em ocupante de veículo - Educação Infantil
 
O passeio do gato - Cleo Busatto

Há dias que a gente nem devia sair da cama, você não acha? Ontem foi um desses dias. Eu estava enrolado nas cobertas quando ouvi:
— Filhinho, pega o Joca. Hoje é dia de vacina do gato.
Não gosto de injeção. Rapidamente me enfiei embaixo da cama. Meu amiguinho não conseguiu me tirar, mas sua irmã, sim. Ela me chamou de um jeito tão especial, que até esqueci o que fui fazer lá, e saí ronronando e me esfregando nas pernas da menina.
Duas mãos enormes me apanharam e me enfiaram dentro de uma caixa minúscula. Em seguida, eu já estava dentro de um carro barulhento, numa rua barulhenta, em direção a uma casa cheia de cachorros barulhentos, e o que é pior, pra levar uma picada daquelas.
Meu amiguinho sentou no banco de trás comigo, e sua irmã, no banco da frente. A mãe dele dizia:
— Meu filho, coloque o cinto de segurança. Minha filha, para trás, na sua cadeirinha, já.
Eles nem ouviam. Continuavam a brigar. Os dois discutiam por uma bobagem, e o menino deu de puxar as tranças da menina. Ela se virou para lhe dar um tabefe. A mãe gritou:
— Parem vocês dois. Já. Ainda bem que este veterinário é pertinho.
Eu fiquei apavorado, porque ela falou isso olhando pra nós, e não percebeu que um carro começava a cruzar a rua. Eu gritei, com a minha voz de gato:
— Cuidado! Carro no cruzamento.
Foi por um triz! Ainda bem que tenho sete vidas. Mas os huma-nos, pelo que eu sei, só têm uma vida, e se não cuidarem...


Tema: Lesão em ocupante de veículo - 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
A menina e a vovó borboleta - Cleo Busatto
Era uma vez um carro vermelho e veloz. Era uma vez uma menina pequenina que usava óculos. Ela sentava no banco da frente. Queria ver a paisagem, por isso ajoelhou-se perto do janela. Agora podia ver o campo, as ovelhas passeando, as vacas pastando, o homem lavrando a terra.
O pai dirigia sério. Nem percebia que a menina tinha o nariz grudado na janela. Nem percebia que ela estava no banco da frente. Nem percebia o perigo que era estar sentada no banco da frente, com o nariz grudado na janela.
- Olha a cascata! - dizia ela. - Olha o rio!
- Olha, papai, uma vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas!
Papai nem ouvia a menina. Só via os carros que passavam rápido na rodovia. Caminhões, caminhões, caminhões. Fila de caminhões e carros que queriam andar mais rápido que os caminhões.
A menina conversou com a vovó, enquanto seu nariz continuava grudado na janela. A vovó, do tamanho de uma borboleta, solta no ar, voava do lado de fora da janela. Com suas mãos escondidas, fazia sinal pra menina passar para o banco de trás.
A vovó não falava, mas a menina podia ler seus pensamentos. A vovó indicou o assento de segurança que estava no banco de trás. A menina não gostava de sentar naquele assento, porque não podia ficar com o nariz grudado na janela.
Mas a vovó era tão linda. Sorria grande. Falava doce. A menina gostou da vovó e sentou no seu lugar, no assento do banco de trás.
A vovó entrou por uma fresta da janela e prendeu o cinto de segurança na menina.
A menina sorriu, e a vovó cantou baixinho, só pro seu coração escutar:
Dorme, dorme, minha bela, e que Deus, no alto, guarde a ti e às crianças, de todos os males.
E a menina sentiu-se segura, dormiu e sonhou com as ovelhas no campo, enquanto o carro vermelho deixava os caminhões para trás.

Tema: Lesão em ocupante de veículo - 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
O passeio de carro: Cuidado! - Cleo Busatto

Um dia desses, meu pai acordou com vontade de passar o domingo na praia e experimentar seu carro novo na estrada. Minha mãe dizia:
— É gente demais pra pouco carro, Tião.
Meu pai fazia as contas:
— Cabe direitinho, quer ver só? Eu e você no banco da frente; atrás vai o Pedro, as duas meninas são pequenas mesmo, e o seu pai.
— A Maria nem tem cadeira de segurança, Tião!
Eu e minhas irmãs fazíamos festa, isso animou minha mãe, que acabou concordando. E lá foi o meu pai socar as 22 sacolinhas que ela insistia em levar. Dizia:
— Esta é a da farofa... esta a do frango... esta a dos panos de prato... dos copos... dos garfos... da salada... do tomate e do pão; esta a dos remédios pra dor de estômago, dor de barriga, dor de cabeça, pra asma, pra disenteria; esta é a das bonecas da Maria, esta a dos livros da Betinha; esta é a dos biquínis, esta a do bronzeador...
Meu pai socava também o guarda-sol, cadeira de praia, frescobol e o isopor com bebidas. Até parecia uma mudança. Foi então que eles apareceram. Eles, os Minúsculos.
Um dizia:
— Agora vai, seu Tião, soca as pessoas dentro deste carrão. Ô, Pedroca, fala pro seu pai levar o cachorro também.
O outro rebatia:
— Pedro, fala pro seu pai não fazer esta loucura. É superlotação, isso não vai dar certo. Se a polícia rodoviária pegar, é multa na certa. Não tem nem cinto de segurança pra todo mundo!
Achei que aquilo tava certo. Eu não havia pensado nisso antes. Resolvi falar:
— Pai, não cabe todo mundo neste carro. Posso ir de ônibus com o vovô? Não tem nem cinto de segurança pra todo mundo.
Meu pai:
— Não se preocupe, meu filho, a praia é pertinho, e a gente vai devagar, passeando, ninguém tem pressa, não é? Quer ver? Você e vovô dividem um cinto, e suas irmãs dividem o outro. Não tem por que temer. Não confia mais no seu pai?
— Claro que confio, é que... eu tava pensando...
E o Minúsculo cara fechada:
— Tá vendo? Preocupando-se com bobagem, garoto, seu pai sabe o que faz.
E o Minúsculo sorridente:
— Fica quieto, quem tá falando bobagem é você. Não percebe que esta família corre perigo? O Pedro está certo. Neste carro não cabe toda esta gente. Eu é que não vou.
— Pois fique. Praia, sol, onda. Não vai levar a prancha, garoto?
Finalmente partimos. Meu pai é bem calmo pra dirigir. O problema é que nem todos são.
Estávamos quase chegando à praia, quando um carro bem veloz tentou nos ultrapassar. Nesse exato momento, outro carro, que vinha na direção contrária, avançou na nossa pista. Foi o tempo de o meu pai jogar o carro no acostamento. Com aquele movimento brusco, minha irmãzinha escorregou por baixo do cinto de segurança e acabou machucando a boca.
Vi o Minúsculo cara feia pulando no meu ombro e rindo sem parar. Fiquei muito bravo. Ora, aquilo não era hora pra fazer gracinha.
Minha mãe, muito nervosa, reclamou:
— Olha, Tião, o Pedro estava certo. Este carro está pequeno pra nossa família. E estas crianças não podem viajar sem segurança. Nem elas, nem a gente. Olha o papai... tadinho... tá branco... que perigo!
Puxa, fiquei todo orgulhoso. Minha mãe me dando razão, e meu pai, que é todo teimoso, falou:
— É. Acho que o Pedro volta de ônibus com o avô. E a gente trata de comprar um ônibus, né?
Naquele momento, começamos a rir, e a viagem continuou.


Tema Colisão de Ciclistas: Educação Infantil
 
O menino e sua bicicleta - Cleo Busatto
Agora, vocês vão conhecer a minha família humana: meu amigo se chama Tom, acabou de fazer seis anos, gosta de jogar bola, voar de bicicleta e brincar com carrinhos.
A sua irmã se chama Dora, mas eu a chamo de Ioiô Dora, porque ela pula e roda sem parar, como um ioiô. Ioiô Dora vai fazer cinco anos. Tenho, também, dois amigos felinos, que moram na casa ao lado: a Biba e o Nino.
Eu estou muuuuuuuito triste. Bem triste mesmo. Eu bem que tentei, mas não consegui. Eu, o super-Joca, não consegui impedir o tombo do Tom. E que tombo! Em toda a minha vidinha de gato, nunca vi coisa assim.
Tom andava de bicicleta na rampa do condomínio onde ele mora. Ele com outros garotos subiam e desciam com tanta velocidade, que até resolvi sair de perto. Eu dizia: “Tom, vá devagar! Olha o outro garoto! Carro saindo da garagem! Ioiô Dora no caminho.” Mas que nada! O Tom parecia estar surdo. Com a sua superbicicleta, fazia vruuuummmmmmmmmmmmmmm... tirava a roda do chão... freava... soltava as mãos.
Aiaiaiiaiiiiaiiiiiiii!!! Eu punha a minha patinha na frente dos olhos. Não queria nem ver, e gritava: “... carro entrando... menino na contra-mão...”.
E o danado do Tom: vruuuuuummmmmmmmmm.
Eu bem que quis chegar mais perto pra alertá-lo do perigo de um tombo daqueles.
O menino estava passando do limite, e muito. Mas era impossível. Ele gritava, pulava... e foi aí que aconteceu.
Um dos garotos não conseguiu desviar e chocou-se com o Tom. Voaram os dois. Espatifaram-se no chão. Foi aquela choradeira. Fiquei gelado. Saía sangue da cabeça do meu amigo. Corri pra dentro de casa, me pendurei na perna do pai do Tom e levei-o para fora. Só conseguia dizer:
— O Tom... o Tom...
O Tom quebrou o braço, machu-cou a cabeça e ralou o joelho, e o outro menino quebrou um dente.
Já viu uma coisa dessas? Isso até pode virar história: o dia em que a inofensiva bicicleta se transformou numa inimiga mortal.


Tema Colisão de Ciclistas: 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
O menino e a vovó de chapéu roxo - Cleo Busatto

O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço numa bicicleta. O moço da bicicleta atropelou o menino.
Não! Não é assim. Começa outra vez.
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço numa bicicleta. O moço da bicicleta freou e não atropelou o menino.
Outra vez!
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço de bicicleta. O moço pedalava rápido, e o suor escorria por dentro de seu capacete laranja. Ele nem olhava para os lados. Não passeava. Apenas corria. Não via nada na sua frente além do caminho estreito por onde voava a sua bicicleta. Veloz... veloz... velozzzzzzzz.
Era um dia nublado, chuvoso e frio.
O menino brincava apenas. Brincava de bola na frente de casa. Fazia uma, duas, três, quatro embaixadinhas. A bola saiu do seu joelho e foi parar no caminho da bicicleta. Mas a bicicleta não podia parar. A bicicleta, com o moço de capacete laranja, andava cada vez mais rápida.
O menino correu atrás da bola, pra fazer cinco, seis, dez, quinze embaixadinhas. O nevoeiro estava baixo e ele nem viu o capacete laranja. Mas viu um vulto ir se formando á sua frente: era a vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas. Ela pegou na sua mão. Soprou forte em direção ao moço da bicicleta, e ele foi parando... parando... sem mesmo saber o porquê. Parou!
O menino pegou sua bola e já ia agradecer à vovó.
Cadê a vovó? A vovó não estava mais lá. E a bola? Onde estava a bola?
Ah! Lá estava a bola, nos pés da vovó.
O moço da bicicleta retomou o seu caminho. Agora ele passeava, pensava no vento, pensava no tempo.
A vovó jogou a bola pro menino. E o menino, de pernas-de-saracura e pulga na cueca, recomeçou as brincadeiras: dezesseis, dezessete... vinte e duas... vinte e cinco... trinta e oito... quarenta embaixadinhas.
Enquanto isso, pensava naquele caminho, onde tudo pode aparecer entre a neblina: vovós, bicicletas, capacetes laranja, e muito perigo.



Tema Colisão de Ciclistas: 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
O tombo de bicicleta - Cleo Busatto

Certo dia, eu combinei de fazer uma aventura de bicicleta com meus amigos. Era pra ser uma aventura do bem. A gente ia pegar um caminho bem tranqüilo e sem carros. Minha mãe até concordou, e eu estava me preparando para encontrar com a turma, quando surgiram dois outros companheiros: o Minúsculo cara feia e o Minúsculo sorridente. É sempre assim: eles aparecem, e eu perco a certeza das coisas.
O Minúsculo sorridente dizia:
— Então vamos passear de bicicleta? Cadê os nossos capacetes?
Dizendo isso, ele tirou um capacete da minúscula mochila que levava nas costas. Morri de ri. Claro que o Minúsculo cara feia não deixou pra menos:
— Cara careta. Não vai colocar uma armadura também? Vam’bora. Larga mão de capacete, Pedroca.
Eu também achava uma bobagem essa história de capacete. Mas Minúsculo sorridente alertou:
— Não pode, Pedro. Você sabe muito bem disso. Se bater a cabeça no chão, é fatal.
— Não seja boboca, cara. É um passeiozinho inocente. Capacete só atrapalha. O suor escorre, esquenta a cabeça — me atentou o cara feia.
— Coloca o capacete, Pedro — continuava o sorridente.
— Não precisa. Vam’bora que tá tarde — dizia o cara feia.
— Ou você coloca, ou eu não vou — ameaçou o sorridente.
— Pois fica — gritou no meu ouvido o Minúsculo cara feia.
Nisso passou o Juca, e eu fui. Nem lembrei de capacete. Os dois se agarraram nas alças da minha mochila, e saí em disparada. Eu sou um bom ciclista. Tenho equilíbrio e faço manobras radicais. Os dois minúsculos quase entravam no meu ouvido, e não me davam descanso:

— Corre mais!
— Vá devagar!
— Aceleeeeera!
— Diminui a velocidade, olha a curva!
— Corre, corre...
— Curte o passeio, garoto.
— Curte a velocidade, garoto.
Eu e o Juca no maior pique, quando... eu nem percebi! Aquilo não era pra estar no meu caminho. Um buraco... um buraco enorme. Não deu tempo de desviar. Eu levei um baita tombo e fiz um corte na cabeça e ralei o joelho. O Juca veio me ajudar. A dor era muita, e percebi que eu havia quebrado alguma coisa. Procurei pelos dois de mim, mas eles não estavam por lá. Eu não conseguia mais pensar em nada. Acho que desmaiei. Quando acordei, eu estava no hospital, com o ombro engessado. Quebrei a clavícula e bati forte a minha cabeça. Foi muito ruim. Muito ruim. O pior foi ter de ouvir mais tarde o Minúsculo cara feia dizer:
— Cara maluco, nem enxerga o que tá na frente do nariz. Quase arrebenta comigo.
O Minúsculo sorridente tentou me animar dizendo:
— Acontece. Agora, se tivesse usando capacete...
Sei lá! Só sei que aquilo doeu muito. O cara do hospital falou que eu tenho de fazer exame da cabeça daqui a um tempo, outra vez, que é pra ter certeza de que está tudo bem com ela.
O machucado do joelho foi fácil, foi só lavar, tratar para não infeccionar e cobrir.
Foi o meu primeiro tombo pra valer. Foi um tombo daqueles