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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dica de Material Pedagógico - Educação para o Trânsito







Acabei de ler algumas histórias que me deixaram cheia de ideias para trabalhar com meus alunos o tema trânsito.

Encontrei no material de estudo de um dos cursos que estou fazendo, o Criança Segura, Safe Kids Brasil.


Acredito que esse pode ser um material valioso para nosso trabalho enquanto formadores de cidadãos para um trânsito seguro.


Esse é o tipo de leitura que vale a pena!!!




Tema: atropelamento. Educação Infantil

A criança e o gato pelas ruas - Cleo Busatto
 
Olá. Eu sou o Joca. Eu sou um gato.
Não um gato qualquer. Sou muito especial.
Tenho uma tarefa que dá um trabalho, viu?
Eu vou lhe contar. Este vai ser o nosso segredo.
Moro com um amiguinho, um humano, que vive se metendo em confusão. E quem é que tira ele das encrencas? Eu, o super-Joca, o gato mais falante de toda a redondeza.
Eu sou um belo gato. Modéstia à parte, me acho... um gato! Sou preto, bem preto; meu pelo é brilhante; meu olho é verde, bem verde.
Meu amiguinho tem o costume de brincar na rua. Ele sabe que a rua já não é mais lugar de brincadeira. Pelo menos a rua na qual ele mora. Mas ele é teimoso, cabeça-dura. Nem adianta a mãe dele dizer:
— Filhinho, sai da rua, que vem carro!
Ele grita:
— Tá bom, mãe, já vou!
Mas continua lá.
Outro dia eu estava curtindo a calmaria de um telhado ensolarado. Com um olho eu dormia, com o outro cuidava do meu amigo que andava de skate. Ele fez um ollie, tirou o skate do chão e ficou se exibindo pros outros meninos.
Com meu olho acordado, eu vi um carro que vinha em alta velocidade. Percebi que meu amigo, no seu ollie radical, ia se esborrachar embaixo das rodas do carro. Saltei rapidamente do telhado e comecei a atravessar a rua, calmamente. O motorista me viu, buzinou e freou a tempo de o meu amiguinho sair da rua. Acho que ele ficou mais assustado com a voz irritada do motorista do que com a possibilidade de ser atropelado. O moço gritou:
— Ei, menino, nesta rua não pode brincar não. Carro mata, viu?
Meu amiguinho ficou gelado e disse:
— Ei, Joca, vamos pra casa. Que susto, hein? O carro quase o pegou.
 

Tema: atropelamento. 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
O menino e vovó de luva vermelha - Cleo Busatto

Todos os dias o menino ia pra escola. Todo dia o menino atravessava a rua, com suas pernas-de-saracura e pulga na cueca. Nem olhava pros lados. Até parece que a rua era só dele. Passava correndo na frente dos carros e dos ônibus grandalhões.
E os ônibus: bip bip bip biiiiiiiiiiiiiiiiiiiiliiiiiiiiiiiiiiiip ...
O menino ria e corria.
A professora do menino não achou graça naquela brinca-deira e disse:
- Menino, não pode atravessar no meio da rua. Você tá vendo aquela faixa branca?
É por ela que se atravessa. Ela foi pintada no chão pra gente passar com segurança. E só quando os carros estiverem parados, entendeu?

O menino responde:
- Sim, senhora!
- E por que você atravessa no meio da rua quando os carros estão andando?
- Sei não, senhora.

Mas o menino, de pernas-de-saracura e pulga na cueca, continuou a fazer tudinho como fazia todos os dias: ria e corria no meio do rua. Até que... biiiiiiiiiiiiiiiiiiippppppppp biiiiiiiiiiiippppppppppp biiiiiiiiiiiipppppppp, fez um carro amarelo.
Shhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, gritou o ônibus grandão.
O menino dançava entre os carros e tentava atravessar.
E agora? Eles vinham em disparada. Todos de uma vez. Não dava para ir pra lá, nem dava para correr pra cá. Foi então que ele a viu, pela primeira vez.
Ela tinha a cabeça branca e usava um chapéu roxo com bolinhas amarelas. Estava parada na calçada, do outro lado da rua, na faixa branca. Ela sorriu pro menino e com um gesto, fez o tempo parar.
Foi ao encontro do pequeno e pegou na sua mão. Atravessaram na faixa de pedestre. Quando já estavam na calçada, os carros voltaram a correr. O menino olhou pro lado. A vovó não estava mais lá. Olhou pro outro lado da rua, e lá estava ela. Sorriu pro menino e acenou com a mão escondida numa luva vermelha.
No outro dia, ela estava lá., ao lado da faixa branca... e no outro dia também... e no outro, no outro e no outro...
Ela erguia sua mão, o tempo parava, e o menino atravessava a rua na faixa branca, levado pela mão encarnada da vovó.

Tema: atropelamento. 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
Pedro e a faixa de segurança - Cleo Busatto



Olá, meu nome é Pedro. Quero contar um segredo pra vocês, e que fique entre nós, tá bom? Isso aconteceu um tempo atrás. Pouco tempo atrás. Foi assim:

Eu estava superatrasado. Ia pro futebol. Convenci o meu pai e a minha mãe que já dava pra ir sozinho. Poxa! Todos os meus amigos faziam isso. Eles iam rir de mim se eu chegasse com “papai”, né?
No caminho que vai da minha casa ao campo de futebol, tem uma avenida, uma via rápida, dessas onde os carros não param nunca. Pra atravessar, a gente tem de se arriscar no meio do trânsito, ou ir até o semáforo, que fica a uns trezentos metros do meu caminho em linha reta.
Eu prometi aos meus pais que só atravessaria na faixa de pedestre. Mas nesse dia eu estava atrasado. Sabe como é! Eu ia na maior pressa, na corrida mesmo. Ao chegar à avenida, parei pra ver se vinha carro. Nenhum carro à vista. Já ia passar direto, quando senti uma coisa tocando no meu braço direito.
Foi a primeira vez que aconteceu.
Alguém tocou o meu ombro. Parei. Olhei pro lado: ninguém. Tocaram no outro ombro. Virei pro outro lado: ninguém. Nessas alturas já havia passado um monte de carros. Fiquei intrigado. Outro toque, depois outro e outro.
“Pô! Que é isso? Parece assombração” — pensei.
Foi então que me vi. É isso mesmo. Juro! Eu me vi, minúsculo, sentado no meu ombro direito. Eu tinha uma cara feia, os cabelos espetados e uma cara de cão raivoso. Até parecia a Lua, minha cachorra, quando está brava. Levei um susto. Virei pra esquerda, e lá estava outro eu, também minúsculo, mas com uma cara sorridente e feliz, com a cabeça repousada no pescoço.
Poxa! Eu não tava sonhando, não. Tava bem acordado. Via tudo o que acontecia na rua, mas via, também, os dois de mim. Pro meu espanto, eles começaram a discutir. Um dizia:
— Vai, Pedroca, passa, cara. Tá com medo, fracote?
O outro:
— Pedro, calma. Olha o perigo que é esta avenida. Anda mais um pouco, larga mão de ser preguiçoso.

Um irritado:
— Deixa disso e passa logo, o carro tá tão longe, dá pra atravessar mil vezes.
Outro tranqüilo:
— Pensa. Pensa antes de passar na louca. Você já é grande e tem noção do perigo. Já imaginou um atropelamento na velocidade que estes caras vêm? Não sobra nenhum de nós pra contar a história.
O atirado:
— Não ouve este trouxa, não! Lembra que o futebol já tá começando, cara. Passa logo.
E o minúsculo sorridente, na maior paz:
— Pedro, lembra da conversa com seus pais. Eles acreditaram em você, e agora você vai quebrar essa confiança por uma tolice? Se chegar atrasado, paciência. Da próxima vez, acorda mais cedo.
Que coisa, viu! Eu estava ali, só olhando, de um lado pra outro, de boca aberta, vendo aqueles dois minúsculos discutindo. Foi então que o meu primo apareceu dizendo que ia pra aquele lado: pros lados do campo de futebol.
Saímos andando, juntos, conversando sobre música. Às vezes, eu espiava pros meus ombros, e eles continuavam lá. Gesticulavam, como se estivessem numa conversa empolgante. Perguntei pro Gustavo:
— Tá vendo alguma coisa no meu ombro?
— Nada.
E assim, na boa, chegamos ao semáforo. Sinal vermelho pros carros: todos pararam. Sinal verde pra nós: atravessamos na maior calma. Em segurança. Senti um alívio.
No meu ombro, eu, minúsculo e de cara feliz, dava um sorriso de vencedor pro eu de cara feia. E foi assim que aconteceu o meu encontro com os dois de mim.
Esse era o segredo.



Tema: Lesão em ocupante de veículo - Educação Infantil
 
O passeio do gato - Cleo Busatto

Há dias que a gente nem devia sair da cama, você não acha? Ontem foi um desses dias. Eu estava enrolado nas cobertas quando ouvi:
— Filhinho, pega o Joca. Hoje é dia de vacina do gato.
Não gosto de injeção. Rapidamente me enfiei embaixo da cama. Meu amiguinho não conseguiu me tirar, mas sua irmã, sim. Ela me chamou de um jeito tão especial, que até esqueci o que fui fazer lá, e saí ronronando e me esfregando nas pernas da menina.
Duas mãos enormes me apanharam e me enfiaram dentro de uma caixa minúscula. Em seguida, eu já estava dentro de um carro barulhento, numa rua barulhenta, em direção a uma casa cheia de cachorros barulhentos, e o que é pior, pra levar uma picada daquelas.
Meu amiguinho sentou no banco de trás comigo, e sua irmã, no banco da frente. A mãe dele dizia:
— Meu filho, coloque o cinto de segurança. Minha filha, para trás, na sua cadeirinha, já.
Eles nem ouviam. Continuavam a brigar. Os dois discutiam por uma bobagem, e o menino deu de puxar as tranças da menina. Ela se virou para lhe dar um tabefe. A mãe gritou:
— Parem vocês dois. Já. Ainda bem que este veterinário é pertinho.
Eu fiquei apavorado, porque ela falou isso olhando pra nós, e não percebeu que um carro começava a cruzar a rua. Eu gritei, com a minha voz de gato:
— Cuidado! Carro no cruzamento.
Foi por um triz! Ainda bem que tenho sete vidas. Mas os huma-nos, pelo que eu sei, só têm uma vida, e se não cuidarem...


Tema: Lesão em ocupante de veículo - 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
A menina e a vovó borboleta - Cleo Busatto
Era uma vez um carro vermelho e veloz. Era uma vez uma menina pequenina que usava óculos. Ela sentava no banco da frente. Queria ver a paisagem, por isso ajoelhou-se perto do janela. Agora podia ver o campo, as ovelhas passeando, as vacas pastando, o homem lavrando a terra.
O pai dirigia sério. Nem percebia que a menina tinha o nariz grudado na janela. Nem percebia que ela estava no banco da frente. Nem percebia o perigo que era estar sentada no banco da frente, com o nariz grudado na janela.
- Olha a cascata! - dizia ela. - Olha o rio!
- Olha, papai, uma vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas!
Papai nem ouvia a menina. Só via os carros que passavam rápido na rodovia. Caminhões, caminhões, caminhões. Fila de caminhões e carros que queriam andar mais rápido que os caminhões.
A menina conversou com a vovó, enquanto seu nariz continuava grudado na janela. A vovó, do tamanho de uma borboleta, solta no ar, voava do lado de fora da janela. Com suas mãos escondidas, fazia sinal pra menina passar para o banco de trás.
A vovó não falava, mas a menina podia ler seus pensamentos. A vovó indicou o assento de segurança que estava no banco de trás. A menina não gostava de sentar naquele assento, porque não podia ficar com o nariz grudado na janela.
Mas a vovó era tão linda. Sorria grande. Falava doce. A menina gostou da vovó e sentou no seu lugar, no assento do banco de trás.
A vovó entrou por uma fresta da janela e prendeu o cinto de segurança na menina.
A menina sorriu, e a vovó cantou baixinho, só pro seu coração escutar:
Dorme, dorme, minha bela, e que Deus, no alto, guarde a ti e às crianças, de todos os males.
E a menina sentiu-se segura, dormiu e sonhou com as ovelhas no campo, enquanto o carro vermelho deixava os caminhões para trás.

Tema: Lesão em ocupante de veículo - 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
O passeio de carro: Cuidado! - Cleo Busatto

Um dia desses, meu pai acordou com vontade de passar o domingo na praia e experimentar seu carro novo na estrada. Minha mãe dizia:
— É gente demais pra pouco carro, Tião.
Meu pai fazia as contas:
— Cabe direitinho, quer ver só? Eu e você no banco da frente; atrás vai o Pedro, as duas meninas são pequenas mesmo, e o seu pai.
— A Maria nem tem cadeira de segurança, Tião!
Eu e minhas irmãs fazíamos festa, isso animou minha mãe, que acabou concordando. E lá foi o meu pai socar as 22 sacolinhas que ela insistia em levar. Dizia:
— Esta é a da farofa... esta a do frango... esta a dos panos de prato... dos copos... dos garfos... da salada... do tomate e do pão; esta a dos remédios pra dor de estômago, dor de barriga, dor de cabeça, pra asma, pra disenteria; esta é a das bonecas da Maria, esta a dos livros da Betinha; esta é a dos biquínis, esta a do bronzeador...
Meu pai socava também o guarda-sol, cadeira de praia, frescobol e o isopor com bebidas. Até parecia uma mudança. Foi então que eles apareceram. Eles, os Minúsculos.
Um dizia:
— Agora vai, seu Tião, soca as pessoas dentro deste carrão. Ô, Pedroca, fala pro seu pai levar o cachorro também.
O outro rebatia:
— Pedro, fala pro seu pai não fazer esta loucura. É superlotação, isso não vai dar certo. Se a polícia rodoviária pegar, é multa na certa. Não tem nem cinto de segurança pra todo mundo!
Achei que aquilo tava certo. Eu não havia pensado nisso antes. Resolvi falar:
— Pai, não cabe todo mundo neste carro. Posso ir de ônibus com o vovô? Não tem nem cinto de segurança pra todo mundo.
Meu pai:
— Não se preocupe, meu filho, a praia é pertinho, e a gente vai devagar, passeando, ninguém tem pressa, não é? Quer ver? Você e vovô dividem um cinto, e suas irmãs dividem o outro. Não tem por que temer. Não confia mais no seu pai?
— Claro que confio, é que... eu tava pensando...
E o Minúsculo cara fechada:
— Tá vendo? Preocupando-se com bobagem, garoto, seu pai sabe o que faz.
E o Minúsculo sorridente:
— Fica quieto, quem tá falando bobagem é você. Não percebe que esta família corre perigo? O Pedro está certo. Neste carro não cabe toda esta gente. Eu é que não vou.
— Pois fique. Praia, sol, onda. Não vai levar a prancha, garoto?
Finalmente partimos. Meu pai é bem calmo pra dirigir. O problema é que nem todos são.
Estávamos quase chegando à praia, quando um carro bem veloz tentou nos ultrapassar. Nesse exato momento, outro carro, que vinha na direção contrária, avançou na nossa pista. Foi o tempo de o meu pai jogar o carro no acostamento. Com aquele movimento brusco, minha irmãzinha escorregou por baixo do cinto de segurança e acabou machucando a boca.
Vi o Minúsculo cara feia pulando no meu ombro e rindo sem parar. Fiquei muito bravo. Ora, aquilo não era hora pra fazer gracinha.
Minha mãe, muito nervosa, reclamou:
— Olha, Tião, o Pedro estava certo. Este carro está pequeno pra nossa família. E estas crianças não podem viajar sem segurança. Nem elas, nem a gente. Olha o papai... tadinho... tá branco... que perigo!
Puxa, fiquei todo orgulhoso. Minha mãe me dando razão, e meu pai, que é todo teimoso, falou:
— É. Acho que o Pedro volta de ônibus com o avô. E a gente trata de comprar um ônibus, né?
Naquele momento, começamos a rir, e a viagem continuou.


Tema Colisão de Ciclistas: Educação Infantil
 
O menino e sua bicicleta - Cleo Busatto
Agora, vocês vão conhecer a minha família humana: meu amigo se chama Tom, acabou de fazer seis anos, gosta de jogar bola, voar de bicicleta e brincar com carrinhos.
A sua irmã se chama Dora, mas eu a chamo de Ioiô Dora, porque ela pula e roda sem parar, como um ioiô. Ioiô Dora vai fazer cinco anos. Tenho, também, dois amigos felinos, que moram na casa ao lado: a Biba e o Nino.
Eu estou muuuuuuuito triste. Bem triste mesmo. Eu bem que tentei, mas não consegui. Eu, o super-Joca, não consegui impedir o tombo do Tom. E que tombo! Em toda a minha vidinha de gato, nunca vi coisa assim.
Tom andava de bicicleta na rampa do condomínio onde ele mora. Ele com outros garotos subiam e desciam com tanta velocidade, que até resolvi sair de perto. Eu dizia: “Tom, vá devagar! Olha o outro garoto! Carro saindo da garagem! Ioiô Dora no caminho.” Mas que nada! O Tom parecia estar surdo. Com a sua superbicicleta, fazia vruuuummmmmmmmmmmmmmm... tirava a roda do chão... freava... soltava as mãos.
Aiaiaiiaiiiiaiiiiiiii!!! Eu punha a minha patinha na frente dos olhos. Não queria nem ver, e gritava: “... carro entrando... menino na contra-mão...”.
E o danado do Tom: vruuuuuummmmmmmmmm.
Eu bem que quis chegar mais perto pra alertá-lo do perigo de um tombo daqueles.
O menino estava passando do limite, e muito. Mas era impossível. Ele gritava, pulava... e foi aí que aconteceu.
Um dos garotos não conseguiu desviar e chocou-se com o Tom. Voaram os dois. Espatifaram-se no chão. Foi aquela choradeira. Fiquei gelado. Saía sangue da cabeça do meu amigo. Corri pra dentro de casa, me pendurei na perna do pai do Tom e levei-o para fora. Só conseguia dizer:
— O Tom... o Tom...
O Tom quebrou o braço, machu-cou a cabeça e ralou o joelho, e o outro menino quebrou um dente.
Já viu uma coisa dessas? Isso até pode virar história: o dia em que a inofensiva bicicleta se transformou numa inimiga mortal.


Tema Colisão de Ciclistas: 1º, 2º e 3º ano do Ensino Fundamental
 
O menino e a vovó de chapéu roxo - Cleo Busatto

O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço numa bicicleta. O moço da bicicleta atropelou o menino.
Não! Não é assim. Começa outra vez.
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço numa bicicleta. O moço da bicicleta freou e não atropelou o menino.
Outra vez!
O menino de pernas-de-saracura e pulga na cueca estava correndo atrás da bola. A bola foi parar na rua. Na rua, passava um moço de bicicleta. O moço pedalava rápido, e o suor escorria por dentro de seu capacete laranja. Ele nem olhava para os lados. Não passeava. Apenas corria. Não via nada na sua frente além do caminho estreito por onde voava a sua bicicleta. Veloz... veloz... velozzzzzzzz.
Era um dia nublado, chuvoso e frio.
O menino brincava apenas. Brincava de bola na frente de casa. Fazia uma, duas, três, quatro embaixadinhas. A bola saiu do seu joelho e foi parar no caminho da bicicleta. Mas a bicicleta não podia parar. A bicicleta, com o moço de capacete laranja, andava cada vez mais rápida.
O menino correu atrás da bola, pra fazer cinco, seis, dez, quinze embaixadinhas. O nevoeiro estava baixo e ele nem viu o capacete laranja. Mas viu um vulto ir se formando á sua frente: era a vovó de chapéu roxo com bolinhas amarelas. Ela pegou na sua mão. Soprou forte em direção ao moço da bicicleta, e ele foi parando... parando... sem mesmo saber o porquê. Parou!
O menino pegou sua bola e já ia agradecer à vovó.
Cadê a vovó? A vovó não estava mais lá. E a bola? Onde estava a bola?
Ah! Lá estava a bola, nos pés da vovó.
O moço da bicicleta retomou o seu caminho. Agora ele passeava, pensava no vento, pensava no tempo.
A vovó jogou a bola pro menino. E o menino, de pernas-de-saracura e pulga na cueca, recomeçou as brincadeiras: dezesseis, dezessete... vinte e duas... vinte e cinco... trinta e oito... quarenta embaixadinhas.
Enquanto isso, pensava naquele caminho, onde tudo pode aparecer entre a neblina: vovós, bicicletas, capacetes laranja, e muito perigo.



Tema Colisão de Ciclistas: 4º e 5º ano do Ensino Fundamental
 
O tombo de bicicleta - Cleo Busatto

Certo dia, eu combinei de fazer uma aventura de bicicleta com meus amigos. Era pra ser uma aventura do bem. A gente ia pegar um caminho bem tranqüilo e sem carros. Minha mãe até concordou, e eu estava me preparando para encontrar com a turma, quando surgiram dois outros companheiros: o Minúsculo cara feia e o Minúsculo sorridente. É sempre assim: eles aparecem, e eu perco a certeza das coisas.
O Minúsculo sorridente dizia:
— Então vamos passear de bicicleta? Cadê os nossos capacetes?
Dizendo isso, ele tirou um capacete da minúscula mochila que levava nas costas. Morri de ri. Claro que o Minúsculo cara feia não deixou pra menos:
— Cara careta. Não vai colocar uma armadura também? Vam’bora. Larga mão de capacete, Pedroca.
Eu também achava uma bobagem essa história de capacete. Mas Minúsculo sorridente alertou:
— Não pode, Pedro. Você sabe muito bem disso. Se bater a cabeça no chão, é fatal.
— Não seja boboca, cara. É um passeiozinho inocente. Capacete só atrapalha. O suor escorre, esquenta a cabeça — me atentou o cara feia.
— Coloca o capacete, Pedro — continuava o sorridente.
— Não precisa. Vam’bora que tá tarde — dizia o cara feia.
— Ou você coloca, ou eu não vou — ameaçou o sorridente.
— Pois fica — gritou no meu ouvido o Minúsculo cara feia.
Nisso passou o Juca, e eu fui. Nem lembrei de capacete. Os dois se agarraram nas alças da minha mochila, e saí em disparada. Eu sou um bom ciclista. Tenho equilíbrio e faço manobras radicais. Os dois minúsculos quase entravam no meu ouvido, e não me davam descanso:

— Corre mais!
— Vá devagar!
— Aceleeeeera!
— Diminui a velocidade, olha a curva!
— Corre, corre...
— Curte o passeio, garoto.
— Curte a velocidade, garoto.
Eu e o Juca no maior pique, quando... eu nem percebi! Aquilo não era pra estar no meu caminho. Um buraco... um buraco enorme. Não deu tempo de desviar. Eu levei um baita tombo e fiz um corte na cabeça e ralei o joelho. O Juca veio me ajudar. A dor era muita, e percebi que eu havia quebrado alguma coisa. Procurei pelos dois de mim, mas eles não estavam por lá. Eu não conseguia mais pensar em nada. Acho que desmaiei. Quando acordei, eu estava no hospital, com o ombro engessado. Quebrei a clavícula e bati forte a minha cabeça. Foi muito ruim. Muito ruim. O pior foi ter de ouvir mais tarde o Minúsculo cara feia dizer:
— Cara maluco, nem enxerga o que tá na frente do nariz. Quase arrebenta comigo.
O Minúsculo sorridente tentou me animar dizendo:
— Acontece. Agora, se tivesse usando capacete...
Sei lá! Só sei que aquilo doeu muito. O cara do hospital falou que eu tenho de fazer exame da cabeça daqui a um tempo, outra vez, que é pra ter certeza de que está tudo bem com ela.
O machucado do joelho foi fácil, foi só lavar, tratar para não infeccionar e cobrir.
Foi o meu primeiro tombo pra valer. Foi um tombo daqueles